A primeira vez a gente nunca esquece
Oi, você ainda não me conhece e seria injusto pedir um tempo, como na vida normal, para que me conheça e quem sabe venha a gostar ou não do que tenho a dizer.
Aqui, agora, no digital, tudo acontece de uma maneira tão acelerada. Consumimos séries inteiras em um único final de semana; escutamos um álbum no repeat, apaixonados, entusiasmados mas o fogo queima até o próximo grande álbum ou descoberta. Não vou nem falar de moda… as fast fashions continuam velozes e furiosas sem se importar com o impacto que tem no meio ambiente e no tecido social. A tentativa do “aluguel de roupas” da Urban Outfitters, chamada de Nuuly, onde você paga de $89,99 a $800 por uma caixa com itens escolhidos de acordo com seu estilo e depois de um tempo pode devolver ou ficar com eles, fala muito mais sobre sua real motivação: continuar vendendo, se escondendo atrás de uma opção “mais consciente” e menos consumista, embora tudo o que querem no final do dia é ver você comprar.
Algumas marcas vem à mente quando falamos sobre usar a ética, o consumo consciente e até as pessoas envolvidas no processo como parte do apelo da marca em seu branding… para logo em seguida ser revelado que não passava de mais uma jogada de marketing. Mais um jeito de fazer dinheiro das pessoas; seja as que trabalham lá e sofreram assédio moral, racismo, gordofobia e tudo o que muitas vezes acontece em marcas de moda, desde pagamentos atrasados, condições precárias de trabalho, racionalização de papel higiênico… e claro, a quebra de confiança do cliente, que busca por opções sérias, éticas, mais humanas de se fazer e comprar moda.
É a era da conscientização mas nunca estivemos tão egoístas, tão ensimesmados, presos em nossas bolhas com celulares, apps que te ajudam a meditar, a malhar, a se conectar sem precisar criar conexões que escapem da tela. Uma curadoria da sua vida que passa a imagem que quiser com uma variedade de filtros a seu dispor que nunca mencionam os problemas de família que você está vivenciando, a briga que teve ontem a noite com seu parceiro depois de uma garrafa de vinho a mais ou que todas as plantas que cultiva não são só porque você quer uma selva urbana, mas ultimamente é mais fácil lidar com elas do que com gente. Mas com o ângulo e a luz certa você garante uma foto da parte da sua vida que quer mostrar. E por que mostrar? Por que dividir?
Assim quando como me sentei de frente para esta página em branco ( a pior e a melhor coisa para qualquer pessoa que escreve), pensei nos motivos de dividir meus pensamentos, angústias, dúvidas, curiosidades, descobertas, aprendizados, erros, inseguranças… e a única coisa que me vinha à mente é que vivemos tão conectados e a solidão nunca pareceu maior. E existem histórias e pensamentos que precisam ser compartilhados, para que possamos trocar, nos identificar, falar de experiências totalmente distintas, a fim de dialogar. Nunca pensei em fazer isso como um blog, a ideia inicial era outra que não se realizou, mas fico feliz de começar aqui, na página em branco, onde posso ser eu, sem filtros, sem freios, só vontade e ideias que espero aos poucos ir dando forma.
Sei que é muita coisa para digerir, como disse no começo, é até injusto pedir um pouco do seu tempo quando você já tem provavelmente mil coisas rolando na sua vida pessoal, do trampo pra resolver, aquela(s) série(s) da Netflix
que precisa colocar em dia, ler os artigos que separou para ler depois e ainda não teve chance, terminar o livro que comprou, isso tudo se você não tem filhos, porque aí acrescenta todos os cuidados necessários por um outro ser humaninho nesse job 24h/dia que não termina e que é tão subestimado… Mas injusto ou ingenuidade minha, eu vou pedir.
Não vou falar “leia quando sobrar aquele tempo”, porque nunca sobra e a gente sabe. Leia como e quando der: no metrô, naquela fila gigante que faz você querer bater seu carrinho em todo mundo e deitar no chão do supermercado, no banheiro (quem nunca?!?), enquanto espera uma consulta marcada (por algum motivo elas sempre atrasam)… O que estou dizendo é que se quiser, talvez no meio de tudo encontre uma brecha, e nesses encontros, quem sabe venha a gostar do que tenho a dizer. E aí, talvez você também tenha, mesmo que seja que não concorda ou que detesta como eu escrevo. Mas hoje, tudo o que quero é te pedir um pouco do seu tempo, e acredita sei que isso vale mais do que dinheiro (apesar de infelizmente não dar pra pagar boleto). Pensa a respeito. Com carinho, com vontade.
Se você chegou até aqui neste texto, (você ganhou a estrela púrpura da paciência…)e talvez também esteja buscando algo diferente, apesar dos milhares de blogs, de estrelinhas do Twitter, de Youtubers… e assim como eu se sinta meio perdida com todo o ruído.
Sou criadora e consumidora ávida de todo tipo de conteúdo e acredito que isso me ajuda a crescer e aprender muita coisa. Mas chegou a hora de criar conteúdo no qual eu acredito.
Hoje dou este primeiro passo e início essa nova jornada. Convido todos que estiverem dispostos a embarcar.
Foi Anaïs Nin que disse: ” Eu sinto prazer nas minhas transformações. Eu pareço quieta e consistente, mas poucos sabem quantas mulheres existem em mim”.
Prazer,
Débora
Imagem: Crédito Vero Romero – Hollywood NDAs