O impacto de Bernard Arnault na moda como conhecemos
Ame ou odeie, não dá para negar a importância e a influência de Bernard Arnault no mundo da moda.
Talvez você sequer tenha ouvido seu nome (o que é um pouco difícil, já que ele é um dos maiores bilionários do mundo), mas com certeza conhece os nomes Louis Vuitton, Christian Dior, Givenchy, Tiffany&Co entre várias outras marcas de luxo que pertencem ao conglomerado do francês.
Conhecido como o Lobo de Cashmere, nome que ganhou por suas táticas agressivas e polêmicas, que causam incômodo na sociedade francesa. Um bom exemplo é a aquisição do tradicional grupo Boussac, com o único propósito de tomar posse da Christian Dior, parte do portfólio do grupo. Invés de salvar a empresa têxtil, o que houve foi a demissão de aproximadamente 9mil funcionários nos meses seguintes, seguida de protestos, além de represálias do governo e da imprensa.
Importante lembrar que na época, a maioria das Maisons de Alta Costura enfrentavam crise e estavam flertando com a falência, e Arnauld viu uma oportunidade única que acabaria por definir o relacionamento que temos com o luxo hoje em dia.
Foi pioneiro em trazer novos designers para injetar vida às tradições e estilo de casas centenárias que não tinham mais a mesma relevância.
Com o capital fornecido pelo grupo LVMH, Alexander McQueen, John Galliano e Marc Jacobs realizaram alguns dos desfiles mais memoráveis e icônicos que já vimos. Os jovens estilistas deram vida a sonhos e fantasias impensáveis, nem que somente por preciosos 30 minutos. Dando início a era dos estilistas celebridades, cuja vida pessoal e comportamento chamavam tanta atenção da mídia quanto suas celebradas criações.
Com a promessa do dinheiro e prestígio das Maisons, além da possibilidade de investir em suas marcas homônimas, os jovens criadores assinaram um pacto com o diabo. Sob a pressão de se superar a cada coleção, além da competição entre eles que era amplamente estimulada por Arnault, chegaram a assinar em média até 14 coleções por ano. Não demorou muito para que os efeitos, na maioria trágicos, começassem a aparecer.
Marc Jacobs teve que ser internado por um problema sério com drogas, Alexander McQueen tirou a própria vida com apenas 40 anos e John Galliano se distanciou da realidade, além de abusar do álcool e ser filmado atacando um casal com comentários antissemitas, que resultaram em sua demissão imediata e exílio.
O império de Arnault continuou intacto, seguindo em frente, atropelando e cortando relações com aqueles responsáveis por ajudá-lo a conquistar a fama e o sucesso comercial, que acabariam tornando-o um dos homens mais ricos do mundo.
Além do aumento desenfreado de números de coleções e peças que passaram a ser a norma, incentivando a necessidade constante de novidades e tendências, que só pioraria quando chegasse às marcas de fast fashion. Afinal, é o luxo que influencia a cadeia inteira.
Mas o luxo é muito pouco acessível para a maior parte do mundo, em especial a Alta Costura, que se estima seja consumida por menos de 1% da população. Mas a ideia do luxo pode ser encapsulada em perfumes, batons e bolsas, com preço mais acessível, aumentando a base de compradores, que aceitam o que for possível para ter a sensação de pertencer a esse mundo.
É a venda desses itens, que é responsável pela maior parte da receita das grandes marcas. Tornando possível os desfiles monumentais e que por sua parte, seguem estimulando o desejo de consumidores em escala global.
Hoje, a nomeação de jovens estilistas é uma prática comum. E o desgaste que vem com as posições, causa um verdadeiro troca-troca que muitas vezes torna difícil acompanhar quem está onde.
Mas é inegável que a tática funcionou. E continua funcionando. O preço que os designers pagam muitas vezes é caro demais. Essa relação de poder e exploração é muito bem descrita no livro incrível Gods&Kings da jornalista Dana Thomas, cujo outro livro, deu origem ao documentário Kingdom of Dreams, que pode ser visto na HBOMax. Vale a pena assistir e ler, para entender em detalhes essa relação e os efeitos que tiveram e ainda têm, inclusive na maneira de se consumir moda.
Hoje, as fast fashions foram substituídas pelas ultras fast fashions, que reproduzem não só as tendências vistas nas passarelas de luxo, mas também as micro trends vistas na internet.
O mercado de luxo, segue na contramão, criando boutiques exclusivas para clientes especiais e apostando em experiências, que traduzem o DNA das marcas em hotéis, restaurantes e criando um universo próprio. Inalcançável.
Bernard Arnault foi visionário em entender a oportunidade que os anseios e desejos do ser humano têm em pertencer, mesmo que perifericamente e através de um chaveiro, ao universo do luxo e tudo que ele representa e promete.
Quando não é possível ser, parecer pode ser a melhor escolha.

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